segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A cidade de Delfos


“Advirto-te, sejas quem fores...
Tu! Que desejas sondar os arcanos da Natureza, se não encontras dentro de ti aquilo que procuras... tampouco o poderás encontrar fora.
Se ignoras as excelências da tua própria casa, como poderás encontrar outras excelências?
Em ti se encontra oculto o tesouro dos tesouros!
Homem!... Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses.”
(Inscrição no Templo de Apolo em Delfos)



O umbigo do mundo

Delfos era considerada o centro do mundo, ou umbigo do mundo e ficou conhecido pelo seu Oráculo. Diz a tradição que Zeus soltou um dia duas águias em sentido contrário. Quando, após várias dias estas se encontraram, deixaram cair uma pedra lavrada com esotéricos sinais e o nome oculto do lugar eleito. Esta cravou-se ao pé do Monte Parnaso e o lugar foi Delfos. E foi para essa cidade que o deus Apolo partiu munido do seu arco e flecha com o objetivo de derrotar o monstruoso dragão Píton, ou, segundo alguns, uma gigantesca serpente. O local na verdade pertencia à Géia, a Mãe-Terra, e já possuía um Oráculo anterior ao de Delfos, o Oráculo de Géia que era guardado pelo monstro Píton, seu filho.



Pedra omphalós


Apolo foi vitorioso na batalha e as cinzas do dragão foram colocadas em um sarcófago e enterradas sob o centro de Delfos. A sacerdotisa de Apolo começou a profetizar na cidade e a pele de Píton passou a cobrir a trípode sobre a qual ela se sentava, razão pela qual a sacerdotisa também era denominada de Pítia ou Pitonisa. Os gregos acreditavam que ao ter entrado em decomposição o corpo do monstro passou a emitir gases intoxicastes que ao serem inalados pela profetisa levavam ela ao êxtase e ela tinha seu espírito possuído pelo deus Apolo, que através dela emitia as profecias. Numa espécie de transe mediúnico ela pronunciava respostas em versos semelhantes aos usados nos poemas Ilíada e Odisséia de Homero e por vezes sons desconexos às pessoas que a consultavam. Essas profecias eram registradas ou interpretadas pelos sacerdotes do Apolo délfico. Estrabão na Geografia refere-se ao ritual da pitonisa de Delfos: “Dizem que o oráculo se senta numa cova, profunda e de abertura não muito larga, e que dela sai um alento inspirador. Sobre a abertura está colocado um alto trípode ao qual sobe a pitonisa, esta recebe o hálito e dá ordens em verso e prosa. Estes são também transcritos em verso por uns poetas ao serviço do Santuário” O visitante que vinha se consultar oferecia um sacrifício a Apolo, normalmente uma cabra ou um bode. ele estremecia, era sinal de que Apolo estava presente.



A Pitonisa


O centro religioso era visitado tanto por cidadãos comuns quanto por líderes políticos, que usavam as profecias para orientar seus governos. Originalmente as consultas eram feitas uma vez por ano no dia sete do mês Bísico, aniversário de Apolo. Com o aumento da demanda de pessoas procurando serem consultadas, passou a ocorrer no dia sete de cada mês, exceto nos meses de inverno, quando o deus estaria de repouso no país dos Hiperbóreos.
A etimologia de Delfos normalmente é relacionada com delpys, útero, a cavidade misteriosa para onde descia a Pítia, para tocar o omphalós, ou umbigo, ali representado por uma pedra. Para se perpetuar a memória do triunfo de Apolo sobre Píton e deixar a serpente-dragão in bono animo, celebravam-se no monte parnaso, de quatro em quatro anos, os jogos Píticos.


O patrono da cidade

Apolo nasceu no dia sete do mês délfico Bísio, ou seja, na segunda metade de março e primeira de abril. Era filho de Zeus e irmão gêmeo de Ártemis. Segundo as tradições gregas tão logo ele havia dado a luz e cisnes de uma brancura imaculada deram sete voltas em torno da ilha de Delos. Basicamente suas festas principais eram celebradas no dia sete do mês, sua doutrina se resumia em sete máximas atribuídas aos sete Sábios e sua lira possuía sete cordas. Sendo, portanto, o número sete o número de Apolo.
Zeus teria enviado ao filho uma mitra de ouro, uma lira e um carro, onde se atrelavam alvos cisnes e ordenou que se dirigissem a cidade de Delfos, mas antes os cisnes conduziram Apolo para além da Terra do Vento Norte, ao país dos Hiperbóreos, que viviam sob um céu puro e eternamente azul e que sempre prestavam ao deus um culto muito intenso. Ali Apolo permaneceu durante um ano e depois retornou à Grécia e no verão chegou à Delfos, onde até mesmo a natureza havia se enfeitado para recebê-lo: rouxinóis e cigarras cantaram em sua honra; as nascentes tornaram-se mais frescas e cristalinas. E foi nesse contexto que Apolo enfrentou Píton e o derrotou. Por causa disso anualmente se celebrava em Delfos a chegada do deus.



O deus grego Apolo é na realidade resultante de uma mistura de vários deuses. Até ele ser reconhecido como um deus solar houve uma grande evolução da cultura e do espírito grego e particularmente da interpretação dos mitos. Na realidade ele aparenta ser uma mistura de diversas divindades, mas apesar disso, conseguiu harmonizar essas polaridades canalizando-as para um ideal de cultura e sabedoria. O deus Apolo era realizador da harmonia e do equilíbrio dos desejos e dentre suas diversas atribuições está a de purificador da alma e também de deus sol.


Delfos

Delfos fica em um Planalto semicircular conhecido como Phaedriades, na encosta do monte Parnaso, e sobranceiro ao vale do rio Pleistos a poucos quilômetros do golfo do Coríntio. A paisagem do local é tipicamente mediterrânea: árida, pontilhada por oliveirar, azinheiras e ciprestes e muito quente e do alto da cidade é possível enxegar o mar.
No séc. VI a.C. já era o mais importante centro religioso da Grécia antiga devido ao seu Oráculo, consultado por peregrinos vindos de todo o país. Estima-se que o Oráculo de Delfos tenha começado a funcionar entre 1200-1100 a.C. O monumento principal da cidade era o templo de Apolo, onde as Pitonisas faziam suas profetizações. Como na Acrópole grega o templo se situava no alto da cidade.
Além do templo havia também um teatro e um estádio onde se realizavam os jogos Píticos. Diferentemente dos jogos Olímpicos onde se cultuava mais o atletismo, esses jogos deviam seu esplendor principalmente às disputas musicais e poéticas, ligadas ao deus Apolo, também deus da música, das artes e da poesia.




Ao chegar à cidade, o visitante que vinha se consultar com o oráculo se registrava e pagava uma taxa. Antes de penetrar na cidade se banhava na fonte de Castália situada na base do Monte Parnaso para se purificar. Fonte essa onde as Sacerdotisas de Delfos também se banhavam antes de seguir para o Templo e fazer sua profecias. Segundo a mitologia era perto dessa fonte que o monstro Píton vivia e aonde se reuniam algumas divindades, deusas menores do canto e da poesia, as musas, juntamente com as ninfas e as náiades, entre elas Castália que deu o nome à fonte.
Antes de se chegar ao Templo de Apolo era preciso percorrer uma trilha de terreno acidentado e íngrime, denominada caminho sagrado ou via sacra. Durante a subida o visitante perdia de vista o Santuário e podia vislumbrar as montanhas que circundavam a região e ao final do caminho avistava uma parede poligonal construida para suportar o terraço onde o templo estava implantado. As pedras dessa parede se encaixavam perfeitamente no local e muitas possuiam incrições cravadas nas suas faces. Apenas um pouco mais a frente é que o pregrino consiguiria visualizar o Templo.
Ao longo do caminho foram-se erguendo, com o passar do tempo, templos menores, chamados Tesouros, onde se guardavam oferendas das cidades-estados gregas ou de nobres para comemorar vitórias dedicadas ao deus Apolo ou como agradecimento ao seu Oráculo. Haviam também algumas construções que serviam de habitação para os Sacerdotes e as Pitonisas. Apesar de parecerem estar aleatoriamente distribuidos no terreno, o pequenos templos tinham como eixo de organização a própria via sacra. Dentre os Tesouros que ladeavam o caminho, um dos mais importante era o Tesouro de Atenas, construído para comemorar a vitória na batalha de Maratona. Haviam diversos outros como o da cidade de Sifnos, o de Argos que foi um dos que melhor se preservou e o Altar de Quios, localizado em frente ao Templo de Apolo. Uma das construções se chamava Tholos e não se sabe ao certo qual era a sua função. Ela data aproximadamente so séc. IV a.C. e julgando pela sua arquitetura bem trabalhada parece ter sido um monumento importante na região. Essas oferendas para Delfos foram tantas que a cidade também se tornou um centro de grande riqueza na Grécia.



Via Sacra



Tholos


O caminhante apenas avistava completamente o Santuário de Apolo, quando passava pelo Altar de Quios. Essa caminhada sob o sol quente da região servia como um ritual de preparação do viajante para o avistamento e depois entrada no local sagrado, podendo ser comparada a um ritual de purificação.
O templo como é conhecido atualmente data do séc IV a. C e foi o terceiro a ser construído no local. Sua arquitetura era dórica e seguia o padrão comum dos templos gregos. Haviam seis colunas ladeando a sua entrada e quinze a sua lateral. E, como diziam as tradições, era no seu subterrâneos que a pitonisa descia para profetizar e também onde se encontrava a pedra que representava o umbigo do mundo.


Ruínas do Templo de Apolo


Logo acima do templo, na parte superior da encosta, se localizava o teatro e depois dele o estádio onde se realizavam os famosos Jogos Píticos, só não tão famosos na Grécia como os Olímpicos. O fato de estarem situados acima do templo não dava mais credibilidade a essas duas construções, na realidade essa posição servia mais como uma veneração a todo o sítio de Delfos. Dali era possível vislumbrar o Templo de Apolo em todo o seu esplendor e a natureza circundante.
Acredita-se que o estádio fora originalmente construído no séc. V a.C. Nele se realizavam a parte de atletismo dos Jogos Píticos como lançamento de flecha, de barra e a luta do pugilato e corrida de cavalos. Ele podia acolher até 6.500 espectadores com uma pista de corrida de 177m de comprimento e 25,5m de largura. Ali também se instalava o teatro (séc.IV a.C.) onde durante os jogos se realizavam os concursos de poesia, de canto (recitações de hinos e poesias), de música (cítara e flauta) e uma dança em volta do altar composta por meninos, que simbolizava a vitória de Apolo sobre a serpente-dragão. A construção possuia 35 fileiras de assentos e podia receber 5mil pessoas. Os vencedores dos jogos podiam ganhar como prêmio dinheiro, uma coroa de ouro ou um ramo de carvalho. Perto do teatro havia um templo dedicado o deus Dionísio,deus do êxtase e do entusiamo. O deus tinha um papel relevante na cidade, pois era ele quem reinava no local durante o inverno, época que Apolo partia para o reino do Hiperbóreos.


Vista da cidade




Teatro


Diversas escavações realizadas no local do oráculo de Delfos, demonstram que, à época micênica (séc.XIV-XI a.C.), Delfos era um pobre vilarejo cujos habitantes veneravam uma deusa muito antiga que lá possuía um Oráculo, a deusa Géia, como consta na mitologia grega. Foi entre os séc XI-IX, que Apolo chegou á delfos e em fins do séc VII a. C a “apolonização” da cidade estava concluída. Alguns rituais como o sacrifício de animais continuou a ser exercido, mesmo assim, o estabelecimento de Apolo na região trouxe novas idéias e conceitos que exerceriam, durante séculos sua influência sobre a vida religiosa, política e social da cultura helenística.
A relação existente entre a deusa da terra e o deus sol evidencia a existência de duas forças contrárias que reinaram sobre a cidade. Uma ligada a mãe terra e as energias telúricas e a outra ao sol, a energia divina. Havia a subordinação da natureza pelo homem, com a construção do Templo de Apolo, mas ao mesmo tempo o culto às energias da terra com a descida da Pitonisa aos subterrâneos.


Influência de Delfos e Apolo no mundo grego

O culto ao deus sol em Delfos demonstra o seu caráter pacificador e ético. Esse caráter conciliatório é percebido, por exemplo, com relação ao deus Dionísio que, apesar de ser considerado como antagônico á Apolo, imperava sobre a cidade uma vez por ano. Por isso, pode-se afirmar que Apolo trouxe a harmonização dos diversos cultos e ritos heleníticos e conseguiu aliviar as tensões existentes entre as cidades-estado da Grécia. Apesar da desunião política grega, Delfos continuou a ser respeitada pelas cidades-estado e conseguiu trazer uma união religiosa para o país.
Os sacerdotes apolíneos eram homens de vasta cultura e de grande visão política e foram verdadeiros condutores da política externa e interna da Grécia. Decisões importantes foram ditadas pelo Oráculo com relação a diversos assuntos como as guerras e a administração interna e expansão do povo grego. Muitas colônias gregas foram fundadas sob a égide de Apolo, sendo assim influenciadas por Delfos política e religiosamente em todos os setores da vida de seus cidadãos. Platão fala no livro da República “ esse deus [Apolo], exegeta nacional, intérprete tradicional da religião, se estabeleceu no centro e no umbigo da Terra, para guiar o gênero humano” Com isso percebe-se a importância que a cidade e o deus Apolo tiveram para o mudo grego.


Curiosidades sobre Delfos

-O arquétipo da cidade sagrada com o seu omphalós é comum em muitas civilizações antigas como a tiawanacota e a tibetana.

-Até mesmo o semi deus Hércules chegou a se consultar com a Sacerdotisa de Delfos para saber sobre o seu destino. Algumas mensagens do Oráculo ficaram famosas devido ao seu sentido ambíguo e obscuro. Um dos casos mais conhecidos é o do famoso rei da Lídia, Creso, que em guerra contra Ciro, rei da Pérsia foi se consultar com a Pitonisa a respeito da destruição de um grande império. Esta lhe repondeu: Se Creso cruzar o rio Hális, destruirá um grande Império. Acreditando que esse império, na relidade era o Persa, o rei partiu para guerra e acabou sendo derrotado e cumprindo, mesmo que a contra gosto, a profecia.
O cidadão Querefonte certa vez perguntou ao Oráculo quem era o homem mais sábio de Atenas e este respondeu que Sábio era Sófocles, mais sábio Eurípides, mas que de todos os homens o mais sábio era Sócrates. Daí se originou a famosa frase de que Sócrates era o homem mais sábio do mundo. O filósofo inclusive inspirou sua maiêutica em um dos escritos do Templo o “conhece-te a ti mesmo”.

-Algumas máximas e preceitos dos sete Sábios da Grécia escritos nas paredes do templo de Apolo em Delfos:
1-A ignorância é intolerável (Tales de Mileto)
2- Moderação na prosperidade (Periandro de Corinto)
3- Saiba aproveitar a oportunidade (Pítaco de Mitilene)
4- Aprenda a saber ouvir (Bias de Priene)
5- Nada em excesso (Sólon de Atenas)
6- Tenha uma língua bendizente (Cleóbulo de Lindos)
7- Conhece-te a ti mesmo (Quílon de Lacedemônia)

Escrito por Thamires Chacara e Gabriela Emi.


Bibliografia

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, Volume II. Rio de Janeiro: Vozes, 5° edição

Livro -

http://whc.unesco.org/en/list/393

http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_286828.shtml

http://viandar-manhente.blogspot.com/2007/06/santurio-de-delfos-grcia.html

http://www.nova-acropole.pt/a_delfos.html

http://pt.wikipedia.org


http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/2003/08/29/000.html

Entrevista com Ricardo Henrique Bezerra Calixto, formado em Letras pelo Ceub

1- Quais são geralmente suas relações com a Arquitetura (funcionais espirituais...).

Assim...de forma grosseira, eu acho que a arquitetura é um complemento refinado da engenharia...A arquitetura mostra maneiras artísticas de construir em todos os sentidos, desde um pequeno móvel até um palácio. A preocupação que a engenharia tem com a funcionalidade e praticidade, a arquitetura tem com a estética (sem esquecer aquilo que a engenharia preza)

2- Qual tipo de arquitetura antiga que o faz sentir-se de forma especial, que o envolve por completo?

Particularmente eu sempre adorei a arquitetura grega, em especial os pilares brancos com aqueles detalhes. Eu acho que branco funciona bem pra todos os tipos de arquitetura...e gosto também da arquitetura gótica, pelo excesso de detalhes!

- Como você acha que essas características estéticas influenciam seu modo de perceber o espaço?
Eu fico fascinado, sinceramente! Acho que qualquer pessoa ficaria ao entrar em algum lugar cuja arquitetura causa um bem estar, uma sensação de espaço e beleza ao mesmo tempo! É difícil entrar em um lugar bonito (mesmo a casa de outras pessoas) e não se sentir confortável!
(considerando que, pra mim, leigo total, arquitetura é primordialmente estética)

3- Em sua visita ao Egito, mais precisamente, o que sentiu quando se deparou pela primeira vez com as Pirâmides?

Eu tive três momentos diferentes de ver as pirâmides! Vamos por partes!
1) No caminho pra Guiza (ou Guizé), tem uma pista em linha reta imensa! Temos que pegar essa pista pra chegar ao deserto e, enquanto estamos nela, de carro, podemos ver a ponta das três pirâmides! Só aí você já fica ansioso por saber que vai vê-las e tocá-las! Fora a expectativa para imaginar o tamanho delas!

2) Na entrada do deserto, temos a impressão de que as três pirâmides (Quéops, Quéfren e Miquerinos) estão muito próximas umas das outras! Parece que a base de uma está por cima da outra e vice-versa!
E na entrada do deserto, você acha que serão uns 10 ou 15 minutos de cavalgada (a camelo ou a cavalo)! Só que a cavalgada é de mais ou menos meia hora, quarenta e cinco minutos...as pirâmides ficam bem longe do começo do deserto!




3- Ao chegar perto das pirâmides, a gente se sente minúsculo! Elas são muito grandes e são bem distantes uma da outra! E, se você não ficar muito sem fala e lembrar que foram mãos de escravos que as construíram, você fica mais sem fala ainda!


Ah, só um detalhe...eu não tive coragem de entrar em nenhuma delas porque a entrada é minúscula e eu achei que poderia ficar preso, sei lá...


Ah, e outro detalhe
Estamos falando só das três pirâmides mais famosas, mas tem muitas pirâmides no Egito. Acho que mais de mil, se não me engano
Eu vi algumas ruínas de pirâmides pequenas no deserto perto de Saqaara



- E qual a impressão que teve? Como foram as sensações comparadas às outras pirâmides?

As outras pirâmides que me lembro são essas de Saqaara, mas elas parecem um amontoado de pedras quebradas... Não causam uma sensação de presença como as pirâmides de Guiza.



- Qual você considera a importância desses monumentos para a sociedade e no contexto histórico em que foram construídas? Que papel eles desempenharam, na sua opinião?

No caso das pirâmides em especial, elas podem ser encaradas como a representação de uma das maiores civilizações do passado. Elas foram construídas com inúmeros escravos e, querendo ou não, eram uma amostra de poder. Mas, ao mesmo tempo, elas eram um sinal de respeito. Elas eram os túmulos dos faraós, lá guardavam os tesouros, os reis mumificados, etc.
Só que, na minha opinião de leigo, esse respeito era apenas com os poderosos. O povo podia sofrer e morrer se fosse em nome do faraó, como de fato, morreram...
Hoje em dia elas são uma maravilha, algo incrível de se ver e inesquecível, também!
É um legado vivo da história...sei lá, é muito difícil descrever! Precisam ver e estar perto pra entenderem!


4- Você consegue perceber conexões entre algumas formas de Arquitetura Contemporânea e Antiga?

Como leigo, consigo perceber poucas coisas...não é algo que eu repare com facilidade, mas imagino que um olhar mais aguçado veja muitas coisas relacionadas!

5- Mas há alguma obra Contemporânea na qual você se sinta da mesma forma ou de forma parecida com que se sentiu ao visitar as Pirâmides?

Sinceramente, nenhuma que eu tenha visto até hoje! O que acontece com as pirâmides é que elas são várias pedras apenas encaixadas, sem nada mais elaborado em termos de construção! Não tem arcos, cimento, nada do tipo! São só pedras uma em cima da outra...e quando se vê o tamanho delas pessoalmente, é quase inacreditável!



Entrevista por Jéssica Marinho e Lara Milhome.

Egito

Morrer, um gesto artístico e estético

Introdução

A antiga civilização Egípcia, por sua riqueza cultural, tecnológica, histórica e social, é de grande valor para a humanidade. Um país próspero situado em um oásis saariano, rodeado por dois desertos áridos. Como diz a famosa frase do célebre grego Heródoto, “O Egito, dádiva do Nilo”. Realmente, ele só existiu porque o Nilo lhe forneceu água e o solo fértil. Entretanto, essa civilização sobreviveu porque o homem, com seu esforço, repartiu a água e trabalhou a terra.
A famosa e monumental arte Egípcia traduz a complexidade dessa cultura e desse passado. Portanto, refletir um pouco sobre a evolução da expressão artística dos Egípcios é como acompanhar o transcorrer histórico desse povo através de um prisma. Para se iniciar esse processo, primeiro, precisa-se pensar o valor próprio e conceitual da manifestação artística para os Egípcios. Sabe-se que na pré-história, a arte estava extremamente ligada com rituais religiosos e mágicos. No Egito, em uma roupagem diferente, ela também exercerá um papel ritualístico. Mas, além disso, exercerá uma forte função documentar histórica, eternizando e recriando esse universo.
As Necrópoles são lugares onde se encontram exemplos desses dois papeis da arte egípcia. As paredes dos templos e das câmaras funerárias são repletas de hieróglifos, e composições figurativas que contam desde grandes feitos do deus-Faraó até peculiaridades cotidianas dos servos. Os artistas se serviam da própria lei da frontalidade e da utilização de diversos planos e ângulos visuais em uma mesma imagem, buscando sempre a melhor representação simbólica de um objeto. Ou seja, uma verdadeira preocupação de documentar o cotidiano. Sendo que a máscara funerária já representa maior teor religioso ao ser responsável pela perenidade física do corpo do defunto, com a intenção de resguardar a integridade do espírito, do kA, na vida após a morte.

Mascará funerária de Tutankhamon


Pré História do vale do Nilo

Esse é o período que abrange desde a idade da pedra lascada do Egito até o início dos primeiros povoados sedentários. A caverna dos nadadores, situada no sudoeste do Egito, apresenta mais de 15 mil pinturas e gravuras, criando um grande panorama do período Paleolítico. As figuras representam a cultura nômade, a fauna e a flora típica da região, e até câmbios econômicos entre os indivíduos.


Caverna dos Nadadores

Quando as regiões que marginam o Nilo tornaram-se mais secas e desérticas, as populações dos vales do Saara, descendentes dos nômades que percorriam as áreas próximas, se instalaram no vale, de onde caçaram e domesticaram animais. Como era preciso organizar o trabalho coletivo para cultivar as férteis terras, os homens se agruparam em aldeias, compostas de cabanas fixas.
Isso marca o início da civilização dos primeiros Egípcios, que começam a substituir a pedra pelos metais. A obra-prima que marca esse período de grande mudança é a faca do Djebel el-Arak. Uma de suas faces representa cenas de combates e a outra, uma cena de caça onde se vê um homem, usando um turbante e uma longa veste flutuante. Ele chega a se medir com dois leões ferozes e se encontra sobre um pico rochoso, observado por dois cães.


Faca do Djebel el-Arak, museu do Louvre


Pente



Vasos em terracota




Faca de Sílex em cabo de ouro


Figura feminina


Homens, Barcos e Animais. Pintura mural de uma sepultura pré-dinástica c. 3200 a.C. Hierakonpolis, Egito.

Egito Antigo


Por volta de 3000 a.C, o Rei Narmer unifica definitivamente o reino do Egito. Inicia-se então, a divisão por dinastias. A célebre paleta de Narmer foi por muito tempo considerado um achado de extraordinária importância histórica-política, como testemunho da unificação do Alto e do Baixo Egito em uma entidade de Estado.
O faraó, com a coroa do Baixo Egito e as insígnias do poder real, é seguido pelo seu porta-sandálias enquanto avança atrás de alguns porta-estandartes, em direção a um campo cheio de cadáveres decapitados. O rei, identificado pelo seu nome, Narmer, escrito próximo ao rosto, tem uma estatura muito maior em relação às outras figuras, segundo um critério iconográfico difundido no antigo Egito, que coloca em evidência a sua importância.
Do outro lado da paleta, próximo ao faraó, está a imagem de um falcão, símbolo do soberano, que agarra o rosto de um indivíduo barbudo atrás do qual se abre em forma de leque um exuberante papiro. Trata-se de uma cena alegórica que pode ser interpretada como a vitória do rei do Alto Egito sobre a população do Delta (cujo papiro é a planta heráldica).
Nas representações das cenas egípcias, o touro é o animal que, juntamente com o leão, é frequentemente utilizado como imagem alegórica do faraó devido à sua força. Aqui o animal está derrubando, com a potência dos seus chifres, os muros que cercam uma cidade já parcialmente destruída, pisando ao mesmo tempo em um inimigo já vencido. É provável que a representação faça alusão a um fato histórico ocorrido durante o reinado de Narmer.






Paleta do Rei Narmer. Museu do Cairo

O Antigo Egito será o mais longo apogeu dessa civilização, quando a pintura, a escultura, a arquitetura e o baixo relevo atingiram a maturidade estética. Os frutos desse Estilo foram uma rígida tradição formal e temática, - a morte, os deuses e a eternidade. O artista-artesão seguia as convenções pré-estabelecidas, não expressando forte relação entre o criador e obra. Além disso, foi uma época na qual a arte se tornou íntima da morte, com as construções das gigantescas mastabas e fabulosas pirâmides.
A primeira forma mais parecida com uma pirâmide foi construída por Imhotep para abrigar o corpo do Rei Zoser. Basicamente, sua forma é constituída da sobreposição de várias mastabas. Enfim, as pirâmides, principalmente a de Gizé, marcam o auge da arquitetura Egípcia. As esculturas seguem a mesma linha áurea. Elas apresentam estaticidade, expressões rígidas, traços imponentes e também composição simétrica. Eram os retratos deixados mais fieis de cada personalidade, sendo mais realista do que a representação pictórica. Por isso, o artista demonstrava maior preocupação e detalhamento no rosto, revelando certa estilização no restante do corpo. Geralmente, as figuras humanas são talhadas sentadas, com as mãos nos joelhos, sendo a mulher mais clara e o homem moreno. As estátuas Rahotep e Nofret exemplificam isso.
A pintura atingiu seu ápice, marcada pela lei da frontalidade. Essa lei estabelecia certas proporções e posições. Por exemplo, o corpo do Faraó para ser bem representado devia ter a cabeça em perfil, os olhos como se estivem sendo vistos de frente, o tronco também, as pernas em perfil e os dois pés do mesmo lado, como se verifica na imagem do deus Seth.



Pirâmides


Esfinge de Gize


Os gansos de Meidum


Estátuas de Rahotep e Nofret


Tríade de Miquerinos




A Monarquia Média (2134 – 1785 a.C.)


Depois da queda do poder faraônico no Egito, após a VI dinastia, a Civilização do Nilo sofreu perturbações políticas por 700 anos. O poder no Egito foi descentralizado e se concentrou nas mãos dos senhores regionais por causa de faraós que exerciam pouco domínio. Na XI e XII dinastias, uma série de soberanos consegue centralizar novamente o poder. Contudo, os soberanos perdem o caráter divino de poder e sua autoridade fica com um caráter mais pessoal. Pouco após o término da XII dinastia, o Egito enfraquecido sofre invasão dos Hicsos, povo da Ásia Ocidental de origem desconhecida que se apoderou do Delta e o governou por 150 anos. Os Hicsos foram expulsos pelo comando do príncipe de Tebas (c. 1500 a. C.).
Essas invasões no Egito refletiram na arte. As figuras retratadas das divindades, dos escribas ou dos faraós, que antes tinham caráter imponente, passaram a ser representado com expressões mais reais como a do medo e da insegurança. O que se pode observar na imagem de Sesótris III.






Retrato de Sesóstris III 1850 a. C. Quartzite, alt. 0,165m. The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque (oferta de Edward S. Harkness, 1926.


Akhenaton

O artista que mais se destacou foi Akhenaton. Ficou famoso pela fomentação de um novo estilo ideal de beleza. Foi revolucionário também por suas crenças religiosas e seus gostos artísticos. Nas duas imagens abaixo, fica claro que entre o primeiro retrato (cabeça do túmulo de Ramsés, da época final de Amenhotep III) e o segundo (Akhenatheton) há um contraste. O primeiro obedece às regras convencionais de representação e o segundo há quebra total. Os lábios do retrato de Akenathon são carnudos. Os traços são estranhamente cadavéricos e os contornos ondulantes bem vincados. Já Nefertiti apresenta beleza e suavidade. Seu busto e rosto possuem traços menos geométricos e mais descontraídos.


Imagem à direita: O irmão do Defunto (pormenor de um baixo relevo de calcário). A. 1375 a.C. Túmulo de Ramsés Tebas.
Imagem à esquerda: Retrato de Akenathon (Amenhotep IV). C. 1360 a.C. Calcário. Alt. 0,08m. Museu do Estado, Berlim.



A rainha Nefertiti. C. 1360 a.C. Calcário; alt. 0,51 m. Museu do Estado, Berlim.


Tumba de Tutankhamon

Na tumba de Tutankhamon, sua urna chama atenção por causa dos jogos de cores variadas na superfície de ouro polido e por causa da sua riqueza, principalmente o azul com o dourado do ouro. O túmulo de Tutankhamon foi um dos poucos encontrados intactos.
No mesmo local, na imagem seguinte, encontra-se uma arca em seu túmulo também, na qual Tutankhamon está representado em cenas de combate e de caça. No lado esquerdo da imagem, Tutankhamon e seu carro são representados nas regras convencionais, que é a representação rígida das autoridades. Contudo, no canto direito, a paisagem retratada não segue as mesmas convenções. No fundo da direita os hieróglifos se transformam em areia até aparecer representações do deserto egípcio e os animais fugindo de forma difusa. Não há uma linha de terra que corte a fuga desses animais.
O interessante dessa imagem de caça, é que raramente é visto tratar a fuga dos animais de forma difusa. Essa dispersão, no entanto é encontrada em escala miniatural, que é uma arca. Há forte influência do estilo de Akhenaton. Esses retratos de paisagens naturais com animais perduraram na arte egípcia e influenciaram os árabes 2000 anos mais tarde.


Tutankhmaon na Caça. Arca pintada do túmulo do faraó, Tebas, c. 1340 a.C. Comprimento da cena 0,51m. Museu Egípcio Cairo.

Decadência da Ta meri [termo egípcio, TERRA AMADA]

Enfim, depois dessas épocas áureas, a civilização Egípcia começou a passar por um longo período de decadência e dominação estrangeira. O fim do Novo Império aconteceu com sucessivas invasões. As mais invasivas foram a dos romanos e dos árabes. Atacado por mar e terra, com seu povo subjugado, o Egito sucumbe rapidamente. Com o decorrer do tempo, sua glória e tradição influenciaram várias culturas posteriores como os gregos, os romanos e os árabes. O Egito sempre será estudado e há vários enigmas a serem estudados.


Conclusão
A egiptóloga francesa Christiane Desroches-Noblecourt afirma:
“A arte egípcia, por sua coesão, pela disciplina de sua tradição, sua grandeza, a tensão sustentada de seu esforço de enorme duração, é o reflexo da mais poderosa civilização que tenha aparecido até hoje, de forma que todas as manifestações culturais que eclodiram depois sobre a terra, poderiam muito bem não ser mais que formas dissociadas de seu estilo”.

Enfim, toda a representação artística e seu estilo estético do Antigo Egito expressam aguda observação da natureza e de suas formas e também profunda veneração aos seus deuses. Por isso, o Faraó é tão glorificado, afinal, ele é o próprio deus palpável, representante direto de Rá e Horus. Além disso, as pirâmides, os sarcófagos, as máscaras funerárias, a mumificação e todo o enxoval funerário expressam a grande importância que a eternidade tinha para esse povo, que acredita na morte como uma passagem para a continuação da vida. A preparação para essa passagem era intensa nas altas classes dessa sociedade. Assim, muito além da concepção moderna de Nietzsche, que diz “viver se torna um gesto artístico e estético”. Para eles, morrer também se tornou um gesto artístico e estético.


Escrito por João Francisco e Lara Araújo.



Bibliografia:
Site: www.faraones.org (visitado em 18/11/2010).
FAURE, Elie. HISTORY OF ART – ANCIENT ART. De luxe edition. 1937. Garden City Publishing Co., Inc. Garden City, New York. Translated from the French by Walter Pach. P. 31 – 77.
MÁLEK, Jamomir. EGYPTIAN ART
Coleção de museus do Jornal Folha de Sãp Paulo, Museu Egípcio de Cairo
Mar, Jean. O EGITO DOS FARÓS

O Gótico e a Catedral de Chartres

O estilo

A arquitetura gótica surgiu na França em um período de grandes transformações, fim do século XII, com o desenvolvimento comercial, o crescimento das cidades e com a centralização política. No entanto, ainda estava dominada pela cultura religiosa e as cruzadas exerciam forte influência sobre a sociedade. Citada como o auge do desenvolvimento artístico da Idade Média , a catedral gótica superou a arquitetura clássica em termos de ousadia construtiva. As “bíblias de pedra” atingiram alturas impressionantes, suas paredes parecem se desmaterializar, graças às abóbadas com traves, responsáveis pela abertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares, e aos arcobotantes , ou contrafortes, responsáveis pela elevação vertical. A riqueza de detalhes atrai o olhar do observador, que se eleva às delgadas agulhas em direção ao infinito, destino dos homens, junto a Deus.


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Nesse período, a beleza era concebida como o esplendor da verdade e as obras artísticas procuravam espelhar essa verdade que transcendia a experiência material. Nesse contexto a arquitetura gótica conseguiu refletir o belo e o espiritual e, durante séculos, foi capaz de atrair viajantes do mundo inteiro, embevecidos com a magnificência das suas construções.
Enquanto nas igrejas românicas a luz era algo que se contrastava com as paredes pesadas e sombrias da construção, no Gótico havia uma intrínseca relação entre a luz e a estrutura da edificação. Nesse estilo, os vitrais passaram a substituir as paredes coloridas da arquitetura românica e, tanto estruturalmente quanto esteticamente, se assemelhavam a paredes transparentes. As catedrais góticas não eram tão iluminadas, mas se destacaram nesse aspecto se comparadas às românicas.


Comparação entre o estilo gótico e o românico

Essas novas características arquitetônicas refletiam as mudanças sociais da sociedade da épocacom o enfraquecimento do feudalismo e o surgimento das universidades no período da baixa Idade Média. A escolástica também promoveu transformações na igreja, contribuindo para um desenvolvimento racional das ciências, tendo Deus como força suprema. Nesse cenário, a verticalidade e exatidão dos traços arquitetônicos representavam a harmonia divina ligada às ciências.
Os vitrais e esculturas com temas bíblicos juntos à elevada altura das catedrais faziam delas verdadeiros textos sagrados, indicando o caminho para a salvação. Os teólogos acreditavam que a beleza do espaço seria favorável à meditação e à fé dos paroquianos. Juntamente com a crescente exigência da população, eufórica com as novas conquistas e a consequente procura por agradecimento espiritual, os espaços eclesiásticos sofreram um aperfeiçoamento, atraindo mais fiéis, que tinham as catedrais como símbolo de orgulho cívico. Elas passaram a representar a grandeza da cidade, cujos recursos eram obtidos por membros tanto da burguesia quanto das classes populares.
As Igrejas góticas tinham sua abside virada para sudeste e a sua fachada para noroeste e os transeptos , formando os braços da cruz, estavam orientados para o nordeste e o sudeste, de modo que os fiéis entrando pelo ocidente se dirigissem para o santuário no oriente, virado pra o nascer do sol.


Fonte: Wikipédia


Notre-Dame de Chartres

A Igreja de Notre-Dame de Chartres se destacou no período da Idade Média, ostentando o título de maior catedral gótica da Europa. O local é um santuário de adoração que chamou a atenção em meio a maravilhosas construções medievais, e em um período em que a arte era essencialmente religiosa, conseguiu se tornar um centro de purificação para onde convergiam milhares de viajantes em busca de conforto espiritual e físico.

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O sítio onde foi construída já era venerado desde épocas bem remotas, acredita-se que desde o período neolítico, quando ele devia ser conhecido como uma espécie de Stonehenge. Os celtas ali também realizaram seus cultos pagãos. O nome Chartres, inclusive, deriva da palavra Carnatum, nome da gruta sagrada onde os celtas veneram a imagem de uma mulher segurando uma criança, considerada pelos cristãos como a figura de Maria .
A Catedral foi construída sobre uma antiga Igreja Românica e foi a segunda igreja em estilo gótico da Europa. Localiza-se no Vale do Loire, vilarejo a 170 km de Paris, na França. Começou a ser construída em 1020 e foi inaugurada em 1064. Marcada pela verticalidade e majestade da arquitetura gótica, Chartres é repleta de história e misticismo, que aliados à precisão arquitetônica, continuam a impressionar seus visitantes.


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Em 1194, a Catedral foi devastada por um incêndio e foi feita uma reconstrução completa da sua nave e do coro. A maior parte da catedral atual foi construída entre 1193 e 1250. Os seus vitrais se mantiveram intactos e a arquitetura sofreu pequenas alterações desde o século 13. Durante a revolução francesa a catedral foi quase destruída por uma multidão num ato contra a religiosidade e ,neste mesmo período, as placas de bronze do labirinto que se encontra no interior da catedral foram retiradas, derretidas e usadas para fins militares.
Até o final do século 12 a igreja já havia se tornado um destino de peregrinos cristãos. Lá aconteciam quatro grandes feiras que coincidiam com as principais festas de Maria e vários fiéis viajavam até o local na expectativa de poderem ver o manto da Virgem. Segundo a lenda, o manto usado por Maria no nascimento de Jesus havia sido doado à catedral por Carlos Magno. O imperador teria recebido a relíquia como presente de Constantino VI em uma das cruzadas.



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Vitrais

A catedral possui mais de 150 vitrais que narram passagens do Novo e do Velho Testamento, incluindo fatos importantes da vida de Cristo, da vida de alguns santos e inclusive símbolos do zodíaco e cenas do cotidiano. A maioria desses vitrais é oriunda dos Séc. XII e XIII.
Além dos vitrais tradicionais, há três rosáceas em Chartres. Uma delas está localizada na fachada oeste e possui 12 metros de diâmetro e no seu interior são representadas cenas do Juízo final. Na fachada norte há outra de 10.5m de diâmetro que é dedicada à Virgem Maria, que aparece ao seu centro segurando o menino Jesus. Ao seu redor há imagens de anjos, pombas e representações de passagens do Antigo Testamento. A última rosácea está localizada ao sul e é dedicada ao próprio Cristo que é representado no seu centro com a mão direita levantada em bênçãos, rodeado por anjos.


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As rosáceas estavam sempre presentes nas catedrais góticas, sendo um dos seus elementos mais característicos. Como seu próprio nome infere, essas grandes estruturas circulares possuíam no seu interior vitrais dispostos de tal forma que lembravam a figura de uma flor, ou rosa.

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O caminho interior


A Catedral de Chartres chegou a ser considerada a Jerusalém celeste, o lugar para onde os peregrinos migravam quando impossibilitados de irem à Terra Santa. A entrada na Igreja não se dava pela porta da fachada principal, antes, o viajor descia aos seus subterrâneos com o intuito de se purificar. Ali, alguns metros abaixo da catedral, na chamada cripta, o visitante rezava para a imagem da Virgem Negra e bebia a água de um poço subterrâneo que tinha a fama de realizar milagres. O indivíduo ficava ali durante horas ou até dias em oração até se sentir harmonizado e purificado para subir até a Catedral. A cripta, na realidade, faz parte da Igreja Românica anterior à construção de Chartres , e, portanto, sua arquitetura difere-se do resto da catedral, sendo um local bem escuro, propício à introspecção.
A própria igreja não é muito iluminada para que se seus vitrais se destaquem e se tornem mais nítidos para o visitante. Ao ter contato com esse novo ambiente o viajor se dirigia ao labirinto, perto da fachada Oeste, também conhecido como o Caminho de Jerusalém. Este é formado por 11 círculos concêntricos sendo representado no chão do edifício por exatamente 365 pedras brancas e 273 pedras negras fazendo uma alusão ao ano solar e lunar e ao seu centro há uma rosa. Ao percorrê-lo, o indivíduo pode ter a impressão de que irá se perder, mas sempre chegará ao centro. Como simbolismo da peregrinação à Jerusalém, muitos fiéis o percorria de joelhos. Nessa caminhada, de aproximadamente uma hora, o circuambular constante leva a pessoa a perder suas referências de espaço e tempo, entrando, no que se acredita ser um estado de meditação, aquietando sua mente e encontrando a paz. A chegada ao centro era o momento da conexão do viajor, já purificado e preparado, com as energias celestes.







As igrejas góticas continuam a encantar pessoas de diversas partes do globo, que vão ao seu encontro em busca de alento para alma e também com o intuito de conhecer sua arquitetura majestosa. Notre-Dame é um dos exemplo dessas construções religiosas que mais se destacou na Europa, sendo um centro de peregrinação e de fé por muitos séculos. Esse fascínio causado por sua história, arquitetura e religiosidade provavelmente continuará a atrair ainda por muito tempo fiéis e curiosos do mundo inteiro ao seu encontro.

Escrito por Thamires Chacara e Gabriela Emi.

Bibliografia:
SIMSON, Otto Von. A Catedral Gótica. Lisboa: Editorial Presença, 1991
FULCANELLI. O mistério das Catedrais. Lisboa: Edições 70, 1964
http://astrologiaisabelcarvalho.blogspot.com
http://en.wikipedia.org/wiki/Chartres_Cathedral
http://www.soarquitetura.com.br
Revista SOPHIA- Ano 8, n°30- abr/jun 2010- Publicação da Ed. Teosófica

Roma: As ruínas arquitetônicas de uma metrópole antiga

Introdução

O império Romano caracterizado pela ambição e dramaticidade humana foi o maior de toda a Antiguidade. Conquistou inúmeros territórios: a Macedônia, a Grécia, a Ásia Menor, o Egito, a Cirenaica (atual Líbia), a península Ibérica, a Gália (França), a Germânia (Alemanha), a Ilíria (Albânia), a Trácia, a Síria, a Palestina e as ilhas Britânicas. Também, transformou a Mauritânia, a Capadócia, a Armênia, os Partos e o Bósforo em reinos vassalos. Com tantas conquistas e batalhas, facilmente, percebe-se que a guerra civil é uma das características definidoras do crescimento do Estado Romano. Afinal, os romanos eram verdadeiras máquinas de guerra, suprindo grande parte das necessidades econômicas do Estado com os saques das novas terras dominadas.
Além das guerras, durante os seus doze séculos de existência, a civilização romana se tornou num vasto império graças a sua intensa assimilação cultural. Os romanos tinham a habilidade de aproveitar o passado político, cultural e tecnológico de outros povos e adaptá-los para seus propósitos. Sendo assim, refinando o conhecimento histórico para sua utilização. A civilização Grega e a Etrusca foram grandes fontes de assimilação. Por isso, a arte, a escultura, a arquitetura, a literatura, e a religião romana apresentam fortes influências gregas. Já a tecnologia, a arquitetura e a engenharia Etrusca ensinaram aos romanos a utilização de arcos e abóbodas nas construções, o funcionamento de sistemas de distribuição de água, a edificação de muralhas e estradas.
Um exemplo dessa mistura de influências na arquitetura Romana é o SANTUÁRIO DA FORTUNA PRIMIGENIA, na província de Palestrina:



O SANTUÁRIO DA FORTUNA PRIMIGENIA , Prenesto (Palestrina). Princípios do séc. I a.C


Ele é o mais antigo monumento, onde se encontra essa mistura de estilos (grego, etrusco etc.) mesclada com as inovações romanas. Localiza-se nas colinas do sopé dos Apeninos, a leste de Roma. Esse santuário só foi encontrado na contemporaneidade por causa de um bombardeamento em 1944 que destruiu a maior parte de uma cidade medieval erguida em cima do santuário. Esse santuário, antes uma fortaleza etrusca, data do século I a.C., foi erguido em homenagem à deusa-mãe Fortuna (o destino, a sorte), e associado a um oráculo também. Esse templo marca o regime de transição entre Sila, que vinha governando de forma autoritária e Júlio César. Como Sila obteve uma grande vitória sobre a guerra civil em Palestrina, é de se supor que ele tenha ordenado a construção desse santuário.
Esse santuário é constituído por uma série de rampas e terraços (claramente visível na maquete de reconstituição) que conduziam a um grande pátio ladeado de pórticos, do qual sobe por uma escadaria disposta como as bancadas de um teatro grego até a colunata semicircular que coroava o edifício. Os arcos das aberturas, enquadradas por colunatas adossadas e entablamentos desempenham importante papel na fachada como se pode ver na gravura que mostra os Terraços Inferiores do Santuário. Com exceção das colunas e das arquitraves, todas as superfícies visíveis na atualidade são de concreto.
Outra característica que chama atenção é o fato de o santuário estar apoiado na encosta de uma colina, comparável à Acrópole de Atenas. Pois, o complexo se ergue das rochas, como se o homem não fizesse mais do que completar um traçado devido à própria natureza. Essa modelação de um complexo religioso ser erguido de rocha pode ser comparada ao templo funerário egípcio de Hatsepsut.


Roma, a capital desse glorioso império, também expressa em seu complexo de edificações (templos, palácios, anfiteatros, mercados, aquedutos, fóruns, basílica moradias etc) e em sua organização social essa mistura de influências históricas e inovações romanas. Pois, ela sempre foi o grande centro dessa civilização, recebendo os forasteiros, e abrigando-os. Sendo assim, por ser tão aberta, se tornou o cenário da livre troca de idéias. Além disso, a cidade de Roma e seu cenário arquitetônico são a máxima expressão e materialização da potência, da riqueza e da prosperidade do império Romano.




Os anfiteatros

O COLISEU foi um enorme anfiteatro para a luta sangrenta de gladiadores no coração de Roma acabado em 80 a.D. Talvez, um dos maiores estádios de todo o mundo, capaz de abrigar 70 mil espectadores. A enorme estrutura de concreto, com os seus quilômetros de escadaria e corredores abobadados foi um dos primeiros exemplos de eficiência de juntar tantas pessoas e ao mesmo tempo fosse tão eficiente em escoar uma enorme quantidade de romanos em poucos minutos. Estabelecendo assim um novo padrão em design de anfiteatros romanos, com uma rede complexa de corredores e escadas que permitiam a entrada e a saída eficientes da multidão. Portanto, o projeto do espaço visava controlar a multidão.
Sua estrutura era extremamente simples porque incorpora dois teatros gregos, unindo para formar um teatro de 360° de circunferência. Ao lado da abóboda de berço, aparece outra mais complexa que é a abóbada de aresta que é formada pela interseção em ângulo reto de duas abóbadas de berço com a mesma altura. O exterior monumental do Coliseu foi revestido com cantaria e há um perfeito equilíbrio entre elementos verticais e horizontais na armação de colunas embebidas e entablamentos que enquadram os três andares de arcadas. As três ordens das colunas clássicas foram sobrepostas segundo o seu peso: a ordem dórica, a mais antiga e severa foi posta no chão, seguida pela jônica, menos rígida (no segundo andar) e a coríntia, mais elevada no andar mais alto. Estruturalmente, as colunas clássicas perderam função, mas sua utilização confere importante função estética e é por meio delas que essa enorme fachada do Coliseu mantém uma escala humana.
O imperador Vespasiano, general simples e direto, construiu o gigante anfiteatro. Ao contrário de seu antecessor, o tirano Nero, ele reuniu as melhores mentes de Roma a serviço do povo. Drenou o enorme lago construído por Nero, - de seu palácio pessoal pago por recursos públicos, e construiu o Coliseu, símbolo do poder, da engenharia e da riqueza da antiga Roma.









O PANTEÃO (séc. II a.D), em Roma é o exemplo mais surpreendente do processo evolutivo das inovações estruturais romanas. Exteriormente, a cella do Panteão se assemelha como um cilindro sem decoração fechado por uma cúpula suavemente encurvada. O elemento que realça a entrada é um pórtico típico dos outros templos romanos. Contudo, não se pode analisar o exterior do Panteão sem os degraus da entrada que foram soterrados, que dava maior grandiosidade ao templo. Além disso, o pórtico foi pensado como um átrio retangular para destacá-lo da rotunda. O que o arquiteto quis destacar foi o interior que cria um belíssimo espaço abobadado que se abre de súbito diante dos espectadores criando um efeito dramático. Esse efeito quebra toda a impressão que temos do exterior do edifício.
A cúpula do centro possui uma abertura que cria um efeito de luz que é reluzente e espetacular. Este óculo (abertura) encontra-se há mais de quarenta metros acima do pavimento e como o diâmetro do recinto tem a mesma dimensão, a cúpula e o tambor, sendo de igual altura criam um perfeito equilíbrio. No exterior, esse equilíbrio não foi possível, porque para conter o empuxo da cúpula era necessário fazer uma base muito mais pesada que no alto (a espessura da abóbada vai decrescendo de baixo para cima: na base é de 6 m e no alto de 1,80m). Os caixotões ajudaram a diminuir a massa da cúpula significativamente. Essa grande estrutura é sustentada por oito grossos pilares que evitam esse empuxo e permitiram que o arquiteto fizesse nichos fechados ao fundo adornados com colunas, o que retirou o efeito de as pessoas se sentirem enclausuradas no interior.
Como o nome sugere, Pantheon significa “todos os deuses”, ou mais exatamente às sete divindades planetárias. Por isso, há os sete nichos. Parece, portanto, razoável a interpretação de que o óculo e a cúpula dourada representem a abóbada celeste.
O panteão foi idealizado pelo imperador Adriano, e construído sobre as ruínas do Templo de Augusto. Ele foi por dezoito séculos o maior vão aberto de concreto no mundo, sem dúvida a construção mais incrível dos romanos.





Conclusão

Enfim, o governo de Caracalla, suas derrotas militares, a exaustão dos cofres públicos em obras e campanhas, e o incêndio devastador que destruiu o Coliseu assinalam o início da queda dessa gigantesca cidade. Ironicamente, seu fim se assemelha ao início de sua origem. Pois, o imperador Caracalla, inicialmente deveria dividir o poder com seu irmão, Gueta. Mas o assassina, como fez Rômulo a Remo. Lentamente, por diversos motivos e invasões o império romano se fragmenta completamente. Legando-nos ruínas de um passado arquitetônico brilhante.



Escrito por João Francisco e Lara Araújo.



Bibliografia:



JANSON, H. W. HISTORY OF ART. 3rd edition revised and expanded by Anthony F. Jason, 1986. Inc. Publishers – New York. Tradução de J. A. Ferreira de Almeida e Maria Manuela Rocheta Santos. Colaboração de Jacinta Maria Matos. Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa, Portugal. P. 155 - 196.
HISTORIA DE LA ARQUITETURA. ALIANZA FORMA.
http://casa-e-energia.blogspot.com/2008/06/o-sector-dos-edifcios-responsvel-pelo.html (18/01/2011)
Publicação: Jorge Melo Cabral (arquiteto formado pela Universidade do Porto em Portugal em 1997)
http://www.parlandosparlando.com/view.php/id_600/lingua_0/whoisit_1 (18/01/2011)
Documentário do History Channel
http://www.historiamais.com/mundo.htm
http://www.historiadaarte.com.br/arteromana.html