sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cultura e processo urbanístico

O NASCIMENTO DA CIDADE

Será possível compreender a cultura de um povo a partir da configuração espacial criada por este. Para se fazer esta análise, é necessário observar as primeiras tentativas urbanísticas do ser humano.
Os primeiros conglomerados urbanos são um fato histórico, geográfico e, acima de tudo, social. Há apenas 10.000 anos, quando os homens e mulheres, tendo descoberto a agricultura e a economia doméstica, puderam deixar de vagar pelo planeta à procura de comida e abrigo. Até então, haviam vivido expostos aos rigores do tempo, precariamente protegidos por tendas feitas com peles de animais. Sempre em movimento, cozinhavam em fogueiras de acampamento e reuniam-se em pequenas tribos.
Tudo isso mudou quando as pessoas tornaram-se sedentárias. As tendas foram substituídas por moradias mais sólidas e uma lareira fixa passou a ocupar o lugar central da casa. Um grande número de cabanas brotou em regiões férteis e de proximidade a rios; o contato entre as famílias tornou-se mais frequente e íntimo; surgiram vilarejos, os quais passaram a ser ligados por uma rede de trilhas.
Esses primeiros conglomerados foram expandindo-se em ocupação territorial bem como nas atividades comerciais. Avanços tecnológicos foram alcançados, o ser humano pode perceber melhor a natureza e dominá-la. Previsivelmente, daí um tempo, ocorreu uma diversificação e divisão de atividades desenvolvidas nas tribos. As especializações profissionais, como sacerdotes, soldados e artesãos, seriam, para alguns historiadores, uma das principais hipóteses para o surgimento das cidades. Com efeito, novas estruturas arquitetônicas tiveram de ser pensadas para abrigar as novas necessidades.



AS MESQUITAS E OS TEMPLOS EGÍPCIOS

É curiosa a semelhança entre as mesquitas e os templos egípcios, ainda que as primeiras recebam grande influência da arte bizantina e trabalhem com elementos de composição arquitetônica diferenciados devido aos avanços construtivos ao longo do tempo. Apesar de que uma das características das mesquitas sejam as cúpulas, podemos encontrar alguns resquícios da arquitetura dos templos egípcios, como elementos que destacam as entradas, uma variação dos pilões que geralmente marcavam a entrada dos santuários.

Fig: templo egípcio (fonte: http://snap3.uas.mx/RECURSO1/Diapositivas/Egipto )

Outra semelhança é a ortogonalidade presente no eixo de organização das mesquitas que se pode observar no esquema abaixo. Além disso, existia uma área central, de maior importância nos santuários do antigo Egito, a chamada sala hipóstila, que pode ser comparada ao pátio interno no esquema abaixo. Geralmente, a sala hipóstila possuía o pé direito mais alto para dar um ar mais imponente e enfatizar o eixo principal, sendo a parte mais iluminada da edificação devido à presença dos clerestórios.

Fig: sala hipóstila de Karnak (fonte: http://snap3.uas.mx/RECURSO1/Diapositivas/Egipto )

O que se encontra nos pátios internos das mesquitas são as várias colunas que contornam sua extensão, como acontecia em toda a sala hipóstila dos santuários, uma vez que os vãos eram maiores. A ausência de cobertura, por ser um pátio interno, também se assemelha ao propósito de destaque que os egípcios davam ao ambiente com o aumento do pé direito. Quanto à sua importância, pode-se dizer que o pátio é, sim, imprescindível, pois é nele que ocorre o ritual de purificação.


Fig: esquema de uma mesquita (fonte:http://denisebomfim.blogspot.com/2010/08/arquitetura-de-uma-mesquita.html )



Fig: planta do templo de Amón-Ra em Karnak (fonte: http://www.artehistoria.jcyl.es/arte/obras/7425.htm )

PALÁCIO DE TOPKAPI EM ISTAMBUL: TRAÇOS DA MESOPOTÂMIA

Os antigos palácios de Istambul são exemplos da influência política na arquitetura, pois eram grandiosos e belos, cheios de ornamentos, mostrando a importância e a riqueza de seus sultões. O palácio de Topkapi é rodeado por três milhas de muralhas, remontando aos muros de segurança das cidades mais antigas da Mesopotâmia, como Jericó (7500 a.C., dita a cidade mais antiga). Assim como nas mesquitas, também possui pátios internos, presentes na arquitetura minóica, mas a semelhança mais forte é com a organização de espaços da arquitetura da Mesopotâmia, que já demonstrava certa segregação social. A planta geral do palácio era dividida em duas partes: Enderum, onde viviam os sultões e as demais pessoas com um status social mais elevado, membros de sua dinastia; e Birum, moradia dos empregados que executavam trabalhos governamentais.


Fig: planta do palácio de Topkapi (fonte: http://ionevet.hd1.com.br/turquia.html )


Os eixos de organização espacial não são tão ortogonais como na civilização egípcia e não partem de um único eixo principal, mas apesar de não serem tão orgânicos e ramificados como na arquitetura da Mesopotâmia, possibilitam diferentes caminhos para ir a um mesmo local, sendo uma mistura das duas formas de organização.



SEMELHANÇAS ENTRE CIVILIZAÇÕES DISTANTES

A semelhança mais incrível que podemos citar é a existente entre Egito e a civilização maia em geral. Escolhemos uma cidade para demonstrar de modo mais preciso, Copán, situada no oeste de Honduras, às margens do rio Copán, próximo à fronteira com a Guatemala. Assim como no Egito, o urbanismo desta cidade desenvolve-se a partir de eixos, ao redor de praças imensas e majestosas, existindo também bairros periféricos. Os templos e praças tinham grande destaque e era nesses locais onde a vida cultural e religiosa da cidade concentrava-se.

Fig: planta da cidade de Copán (fonte: http://www.mondolatino.eu/viajes/adondeir/Guatemala.php )


A arquitetura de Copán é rica em templos e pirâmides, e assim como os egípcios, faziam estátuas de deuses e sacerdotes, além de fazerem inscrições em hieroglifos. O templo em forma de pirâmide escalonada lembra as mastabas egípcias, sendo muito parecido com a primeira pirâmide, construída pelo arquiteto Imhotep para o faraó Zozer, empilhando mastabas.

Fig: Templo em Copán (fonte: http://www.mondolatino.eu/viajes/adondeir/Guatemala.php )


Fig: Pirâmide escalonada egípcia (fonte: http://www.descobriregipto.com/sakkara.html )



CONCLUSÃO

Feitas estas análises, podemos concluir que a organização espacial reflete muitos aspectos culturais de uma civilização e de sua história. A partir do momento que o homem deixa de ser nômade e passa a buscar abrigos mais duradouros, surgem novas necessidades, como a de desenvolver novas técnicas construtivas que possam sanar a necessidade de moradia, da prática de ritos, entre outros. Tais necessidades variam entre as civilizações, e é a partir dessas variações que conseguimos perceber o elo entre a cultura e a organização espacial.
Alguns povos sentem uma necessidade maior de proteção e constroem muros ao redor de seus povoados e cidades, como ocorre na Mesopotâmia, onde, para reforçar a segurança, ainda são colocadas ameias nos muros maciços. No povo sumério, por exemplo, é notável a influência religiosa que estabelece como religião o socialismo teocrático; o estado era governado por um sacerdote e havia junção de recursos públicos e construções de obras para a comunidade. Foi por causa de sua forte crença na existência de uma nova vida após a morte que os faraós egípcios providenciavam a construção das monumentais pirâmides, onde viveriam eternamente após a realização de uma série de rituais funerários.
Há diversos outros aspectos a serem abordados e milhares de outros povos e civilizações a serem estudados. Este texto apenas objetivou ilustrar com alguns exemplos o quão o urbanismo e a arquitetura de um povo estão entrelaçados a seu contexto histórico e, principalmente, a sua cultura.




Escrito por Lara Milhome Romão e Jéssica Silva Marinho.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

•ELS MAIES. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•MESOPOTÂMIA - SOCIEDADE E CULTURA. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•A CULTURA EGÍPCIA. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•ANÁLISIS HISTÓRICO SIMPLE SOBRE PUEBLOS PRECOLOMBINOS. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•ISTAMBUL. Disponível em: Acesso em novembro 2010.

•ARQUITETURA ISLÂMICA. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•CULTURA DO MÉXICO. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•COPÁN, HONDURAS E A CULTURA MAIA. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•COPÁN. Disponível em Acesso em novembro de 2010.

•MAIS UM POUCO SOBRE A EGÉIA. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•AS PRIMEIRAS MORADIAS. Disponível em: Acesso em novembro de 2010.

•GOMBRICH, Ernst. A História da Arte. 16. ed. Tradução de Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 1999.

•FORRAT, Juan Cano. Introducción a la historia del urbanismo. Valencia: Ed. Universidad Politécnica, 2003.

3 comentários:

  1. Ola, me chamo Arnon Cabral e adorei o blog de voces! Parabens

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O urbanismo e a arquitetura de um povo estão entrelaçados a seu contexto histórico e, principalmente, a sua cultura. Muito interessante, é confirmado que não existe o belo e o feio, mas o que é para QUEM é construído, idealizado, formulado. A arquitetura e o urbanismo são ricos em conhecimentos.

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