segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Egito

Morrer, um gesto artístico e estético

Introdução

A antiga civilização Egípcia, por sua riqueza cultural, tecnológica, histórica e social, é de grande valor para a humanidade. Um país próspero situado em um oásis saariano, rodeado por dois desertos áridos. Como diz a famosa frase do célebre grego Heródoto, “O Egito, dádiva do Nilo”. Realmente, ele só existiu porque o Nilo lhe forneceu água e o solo fértil. Entretanto, essa civilização sobreviveu porque o homem, com seu esforço, repartiu a água e trabalhou a terra.
A famosa e monumental arte Egípcia traduz a complexidade dessa cultura e desse passado. Portanto, refletir um pouco sobre a evolução da expressão artística dos Egípcios é como acompanhar o transcorrer histórico desse povo através de um prisma. Para se iniciar esse processo, primeiro, precisa-se pensar o valor próprio e conceitual da manifestação artística para os Egípcios. Sabe-se que na pré-história, a arte estava extremamente ligada com rituais religiosos e mágicos. No Egito, em uma roupagem diferente, ela também exercerá um papel ritualístico. Mas, além disso, exercerá uma forte função documentar histórica, eternizando e recriando esse universo.
As Necrópoles são lugares onde se encontram exemplos desses dois papeis da arte egípcia. As paredes dos templos e das câmaras funerárias são repletas de hieróglifos, e composições figurativas que contam desde grandes feitos do deus-Faraó até peculiaridades cotidianas dos servos. Os artistas se serviam da própria lei da frontalidade e da utilização de diversos planos e ângulos visuais em uma mesma imagem, buscando sempre a melhor representação simbólica de um objeto. Ou seja, uma verdadeira preocupação de documentar o cotidiano. Sendo que a máscara funerária já representa maior teor religioso ao ser responsável pela perenidade física do corpo do defunto, com a intenção de resguardar a integridade do espírito, do kA, na vida após a morte.

Mascará funerária de Tutankhamon


Pré História do vale do Nilo

Esse é o período que abrange desde a idade da pedra lascada do Egito até o início dos primeiros povoados sedentários. A caverna dos nadadores, situada no sudoeste do Egito, apresenta mais de 15 mil pinturas e gravuras, criando um grande panorama do período Paleolítico. As figuras representam a cultura nômade, a fauna e a flora típica da região, e até câmbios econômicos entre os indivíduos.


Caverna dos Nadadores

Quando as regiões que marginam o Nilo tornaram-se mais secas e desérticas, as populações dos vales do Saara, descendentes dos nômades que percorriam as áreas próximas, se instalaram no vale, de onde caçaram e domesticaram animais. Como era preciso organizar o trabalho coletivo para cultivar as férteis terras, os homens se agruparam em aldeias, compostas de cabanas fixas.
Isso marca o início da civilização dos primeiros Egípcios, que começam a substituir a pedra pelos metais. A obra-prima que marca esse período de grande mudança é a faca do Djebel el-Arak. Uma de suas faces representa cenas de combates e a outra, uma cena de caça onde se vê um homem, usando um turbante e uma longa veste flutuante. Ele chega a se medir com dois leões ferozes e se encontra sobre um pico rochoso, observado por dois cães.


Faca do Djebel el-Arak, museu do Louvre


Pente



Vasos em terracota




Faca de Sílex em cabo de ouro


Figura feminina


Homens, Barcos e Animais. Pintura mural de uma sepultura pré-dinástica c. 3200 a.C. Hierakonpolis, Egito.

Egito Antigo


Por volta de 3000 a.C, o Rei Narmer unifica definitivamente o reino do Egito. Inicia-se então, a divisão por dinastias. A célebre paleta de Narmer foi por muito tempo considerado um achado de extraordinária importância histórica-política, como testemunho da unificação do Alto e do Baixo Egito em uma entidade de Estado.
O faraó, com a coroa do Baixo Egito e as insígnias do poder real, é seguido pelo seu porta-sandálias enquanto avança atrás de alguns porta-estandartes, em direção a um campo cheio de cadáveres decapitados. O rei, identificado pelo seu nome, Narmer, escrito próximo ao rosto, tem uma estatura muito maior em relação às outras figuras, segundo um critério iconográfico difundido no antigo Egito, que coloca em evidência a sua importância.
Do outro lado da paleta, próximo ao faraó, está a imagem de um falcão, símbolo do soberano, que agarra o rosto de um indivíduo barbudo atrás do qual se abre em forma de leque um exuberante papiro. Trata-se de uma cena alegórica que pode ser interpretada como a vitória do rei do Alto Egito sobre a população do Delta (cujo papiro é a planta heráldica).
Nas representações das cenas egípcias, o touro é o animal que, juntamente com o leão, é frequentemente utilizado como imagem alegórica do faraó devido à sua força. Aqui o animal está derrubando, com a potência dos seus chifres, os muros que cercam uma cidade já parcialmente destruída, pisando ao mesmo tempo em um inimigo já vencido. É provável que a representação faça alusão a um fato histórico ocorrido durante o reinado de Narmer.






Paleta do Rei Narmer. Museu do Cairo

O Antigo Egito será o mais longo apogeu dessa civilização, quando a pintura, a escultura, a arquitetura e o baixo relevo atingiram a maturidade estética. Os frutos desse Estilo foram uma rígida tradição formal e temática, - a morte, os deuses e a eternidade. O artista-artesão seguia as convenções pré-estabelecidas, não expressando forte relação entre o criador e obra. Além disso, foi uma época na qual a arte se tornou íntima da morte, com as construções das gigantescas mastabas e fabulosas pirâmides.
A primeira forma mais parecida com uma pirâmide foi construída por Imhotep para abrigar o corpo do Rei Zoser. Basicamente, sua forma é constituída da sobreposição de várias mastabas. Enfim, as pirâmides, principalmente a de Gizé, marcam o auge da arquitetura Egípcia. As esculturas seguem a mesma linha áurea. Elas apresentam estaticidade, expressões rígidas, traços imponentes e também composição simétrica. Eram os retratos deixados mais fieis de cada personalidade, sendo mais realista do que a representação pictórica. Por isso, o artista demonstrava maior preocupação e detalhamento no rosto, revelando certa estilização no restante do corpo. Geralmente, as figuras humanas são talhadas sentadas, com as mãos nos joelhos, sendo a mulher mais clara e o homem moreno. As estátuas Rahotep e Nofret exemplificam isso.
A pintura atingiu seu ápice, marcada pela lei da frontalidade. Essa lei estabelecia certas proporções e posições. Por exemplo, o corpo do Faraó para ser bem representado devia ter a cabeça em perfil, os olhos como se estivem sendo vistos de frente, o tronco também, as pernas em perfil e os dois pés do mesmo lado, como se verifica na imagem do deus Seth.



Pirâmides


Esfinge de Gize


Os gansos de Meidum


Estátuas de Rahotep e Nofret


Tríade de Miquerinos




A Monarquia Média (2134 – 1785 a.C.)


Depois da queda do poder faraônico no Egito, após a VI dinastia, a Civilização do Nilo sofreu perturbações políticas por 700 anos. O poder no Egito foi descentralizado e se concentrou nas mãos dos senhores regionais por causa de faraós que exerciam pouco domínio. Na XI e XII dinastias, uma série de soberanos consegue centralizar novamente o poder. Contudo, os soberanos perdem o caráter divino de poder e sua autoridade fica com um caráter mais pessoal. Pouco após o término da XII dinastia, o Egito enfraquecido sofre invasão dos Hicsos, povo da Ásia Ocidental de origem desconhecida que se apoderou do Delta e o governou por 150 anos. Os Hicsos foram expulsos pelo comando do príncipe de Tebas (c. 1500 a. C.).
Essas invasões no Egito refletiram na arte. As figuras retratadas das divindades, dos escribas ou dos faraós, que antes tinham caráter imponente, passaram a ser representado com expressões mais reais como a do medo e da insegurança. O que se pode observar na imagem de Sesótris III.






Retrato de Sesóstris III 1850 a. C. Quartzite, alt. 0,165m. The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque (oferta de Edward S. Harkness, 1926.


Akhenaton

O artista que mais se destacou foi Akhenaton. Ficou famoso pela fomentação de um novo estilo ideal de beleza. Foi revolucionário também por suas crenças religiosas e seus gostos artísticos. Nas duas imagens abaixo, fica claro que entre o primeiro retrato (cabeça do túmulo de Ramsés, da época final de Amenhotep III) e o segundo (Akhenatheton) há um contraste. O primeiro obedece às regras convencionais de representação e o segundo há quebra total. Os lábios do retrato de Akenathon são carnudos. Os traços são estranhamente cadavéricos e os contornos ondulantes bem vincados. Já Nefertiti apresenta beleza e suavidade. Seu busto e rosto possuem traços menos geométricos e mais descontraídos.


Imagem à direita: O irmão do Defunto (pormenor de um baixo relevo de calcário). A. 1375 a.C. Túmulo de Ramsés Tebas.
Imagem à esquerda: Retrato de Akenathon (Amenhotep IV). C. 1360 a.C. Calcário. Alt. 0,08m. Museu do Estado, Berlim.



A rainha Nefertiti. C. 1360 a.C. Calcário; alt. 0,51 m. Museu do Estado, Berlim.


Tumba de Tutankhamon

Na tumba de Tutankhamon, sua urna chama atenção por causa dos jogos de cores variadas na superfície de ouro polido e por causa da sua riqueza, principalmente o azul com o dourado do ouro. O túmulo de Tutankhamon foi um dos poucos encontrados intactos.
No mesmo local, na imagem seguinte, encontra-se uma arca em seu túmulo também, na qual Tutankhamon está representado em cenas de combate e de caça. No lado esquerdo da imagem, Tutankhamon e seu carro são representados nas regras convencionais, que é a representação rígida das autoridades. Contudo, no canto direito, a paisagem retratada não segue as mesmas convenções. No fundo da direita os hieróglifos se transformam em areia até aparecer representações do deserto egípcio e os animais fugindo de forma difusa. Não há uma linha de terra que corte a fuga desses animais.
O interessante dessa imagem de caça, é que raramente é visto tratar a fuga dos animais de forma difusa. Essa dispersão, no entanto é encontrada em escala miniatural, que é uma arca. Há forte influência do estilo de Akhenaton. Esses retratos de paisagens naturais com animais perduraram na arte egípcia e influenciaram os árabes 2000 anos mais tarde.


Tutankhmaon na Caça. Arca pintada do túmulo do faraó, Tebas, c. 1340 a.C. Comprimento da cena 0,51m. Museu Egípcio Cairo.

Decadência da Ta meri [termo egípcio, TERRA AMADA]

Enfim, depois dessas épocas áureas, a civilização Egípcia começou a passar por um longo período de decadência e dominação estrangeira. O fim do Novo Império aconteceu com sucessivas invasões. As mais invasivas foram a dos romanos e dos árabes. Atacado por mar e terra, com seu povo subjugado, o Egito sucumbe rapidamente. Com o decorrer do tempo, sua glória e tradição influenciaram várias culturas posteriores como os gregos, os romanos e os árabes. O Egito sempre será estudado e há vários enigmas a serem estudados.


Conclusão
A egiptóloga francesa Christiane Desroches-Noblecourt afirma:
“A arte egípcia, por sua coesão, pela disciplina de sua tradição, sua grandeza, a tensão sustentada de seu esforço de enorme duração, é o reflexo da mais poderosa civilização que tenha aparecido até hoje, de forma que todas as manifestações culturais que eclodiram depois sobre a terra, poderiam muito bem não ser mais que formas dissociadas de seu estilo”.

Enfim, toda a representação artística e seu estilo estético do Antigo Egito expressam aguda observação da natureza e de suas formas e também profunda veneração aos seus deuses. Por isso, o Faraó é tão glorificado, afinal, ele é o próprio deus palpável, representante direto de Rá e Horus. Além disso, as pirâmides, os sarcófagos, as máscaras funerárias, a mumificação e todo o enxoval funerário expressam a grande importância que a eternidade tinha para esse povo, que acredita na morte como uma passagem para a continuação da vida. A preparação para essa passagem era intensa nas altas classes dessa sociedade. Assim, muito além da concepção moderna de Nietzsche, que diz “viver se torna um gesto artístico e estético”. Para eles, morrer também se tornou um gesto artístico e estético.


Escrito por João Francisco e Lara Araújo.



Bibliografia:
Site: www.faraones.org (visitado em 18/11/2010).
FAURE, Elie. HISTORY OF ART – ANCIENT ART. De luxe edition. 1937. Garden City Publishing Co., Inc. Garden City, New York. Translated from the French by Walter Pach. P. 31 – 77.
MÁLEK, Jamomir. EGYPTIAN ART
Coleção de museus do Jornal Folha de Sãp Paulo, Museu Egípcio de Cairo
Mar, Jean. O EGITO DOS FARÓS

2 comentários:

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