domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Mito: Arte e Teatro na Grécia Antiga

O MITO PRIMITIVO: EXPLICAÇÃO DO MUNDO

Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens.

Funções do Mito: embora o mito também seja uma forma de compreensão da realidade, sua função é, primordialmente, acomodar e tranquilizar um ser humano em um mundo assustador. Entre as comunidades primitivas como a Grécia Antiga, o mito se constituiu um discurso de tal força que se estendia por todas as dependências da realidade vivida; não se restringia apenas ao âmbito do sagrado (ou seja, da relação entre a pessoa e o divino), mas permeava todos os campos da atividade humana.

Após a melhor acomodação dos gregos no espaço, a ampliação das cidades e a consolidação das instituições, um pouco antes de 500 a. C., foi ocorrendo uma transformação no ideário do povo grego. É a época em que o povo das cidades gregas começou a contestar as antigas tradições e lendas sobre os deuses, e a investigar sem preconceitos a natureza das coisas, é o período no qual se desenvolve o Teatro a partir das cerimônias em honra a Dioniso, deus do vinho, da vegetação, do êxtase e das metamorfoses.
Outra grande revolução da arte grega, a descoberta de formas naturais e do escorço. Certamente o Teatro contribuiu para dar certo dinamismo às obras pictóricas, esculturas e cerâmicas. Pode-se afirmar que o próprio Teatro com suas máscaras caricaturais e tremendamente expressivas serviu como libertação de parte do perfeccionismo do ideário grego da estética em suas representações, principalmente as peças de Comédia . Alguns artistas passaram a trazer para suas obras cenas das peças.






Fig: Vaso com cena de Comédia http://www.google.com/imghp/vasocomedia





Fig: Máscara para Comédia (fonte: http://www.google.com/imghp/mascaracomica )



SURGIMENTO DO TEATRO: A RELAÇÃO COM O DEUS DIONISO

O Teatro grego é um cenário religioso. Desde os primeiros séculos fazem parte do culto a Dioniso cantos de coral, danças de exaltação e procissões de máscaras. Da unificação do culto e do jogo resultam as duas formas de drama: tragédia e comédia. São principalmente obras de poetas áticos (região onde primeiramente se situou a antiga cidade de Atenas). Entre os séculos VI e V a. C., as encenações ganham mais importância e popularidade ao ponto de serem realizados festivais em homenagem a Dioniso com competições e premiações.
O Teatro subdivide-se em três partes: tragédia, comédia antiga e comédia nova. A tragédia e a comédia separavam logo de começo o tipo das duas máscaras, a face severa e a face risonha, figurando assim o duplo aspecto contrastante da vida. Dioniso conhecido também como deus-máscara, em suas representações se vê a importância que se atribuía ao olhar rígido. Dioniso é, quase sempre, representado de frente, entre outras máscaras de perfil, como se o seu olhar tivesse o poder de levar os homens para outra dimensão, que não a do quotidiano. Máscaras como alongamento do corpo do ator e como amplificador de suas vozes.
A identidade dos atores era preservada pelo uso das máscaras. Estas desempenhavam um papel fundamental nas representações cênicas, pois através delas era feita a maior parte da caracterização dos personagens: a idade, o sexo, a importância social e o estado espiritual. As expressões eram bastante trabalhadas para que não houvesse dúvidas em relação às emoções que representavam. Além disso, as máscaras eram muitas, pois os atores trocavam-nas diversas vezes durante as apresentações.





Fig: Máscara de Comédia (fonte: http://www.google.com/imghp/mascaracomica )





Fig: Reconstituição da Tragédia Grega
(fonte: http://www.google.com/imghp/atoresemascaras )


Aristóteles foi um dos primeiros a estudar o impacto dos espetáculos teatrais. Abaixo está definição de tragédia:
[...] uma representação imitadora de uma ação séria, concreta, de certa grandeza, representada, e não narrada, por atores em linguagem elegante, empregando um estilo diferente para cada uma das partes, e que, por meio da compaixão e do horror provoca o desencadeamento liberador de tais afetos.
Uma das principais características da tragédia é a catarse que provoca no público a partir de histórias tristes e violentas de amor e de guerra que quase sempre recontavam os mitos sobre deuses relacionando-os à vida do povo. As tragédias discorrem sobre o destino e a influência dos deuses nos acontecimentos cotidianos. O herói trágico é, geralmente, uma figura radiante e envolta por glória que, repentinamente, vê-se vítima de uma alteração brusca do destino que a conduz à desgraça. Um exemplo muito claro é a história de Édipo, que serviu de base para o Teatro. Édipo nasce com o destino de matar o pai e de casar-se com a própria mãe e por mais que tente se desviar disso. Sendo assim, a catarse é a purgação das emoções dos espectadores, que se sensibilizam, sentindo uma profunda compaixão pelo infausto que o destino reservara ao herói; uma espécie de exorcismo coletivo.
A tragédia era escrita em cinco atos e tinha uma forte ligação com a música. O coro manifestava a voz do bom senso, da harmonia e da moderação exaltando os protagonistas. A importância do coro e sua relação com o Teatro podem ser verificadas na passagem seguinte:
[...] diálogo e coro alternavam-se na tragédia grega, pois, da seguinte maneira: iniciava-se a representação com o Prólogo, uma introdução encarregada de dar as explicações necessárias para o entendimento da peça dramática, apresentando ao público a lenda cujos elementos precisavam ser conhecidos ou relembrados. A seguir, no Párodo, o Coro entrava cantando (para-odós: ao longo do caminho, enquanto caminha). Daí por diante, alternavam-se Coro e Diálogo em Estásimos (atuações do Coro) e Episódios, que o Teatro moderno chamaria de “Atos”. O último Episódio leva o nome especial de Êxodo e, não raro, terminava com um canto coral, denominado Kommos, em que se uniam cantores e atores. (LIMA, 1996: p. 105).


Assim como a tragédia nasceu do ritual e das danças referentes aos mistérios do sofrimento, assim a comédia se engendrou nos ritos relativos aos mistérios da fertilidade e da procriação. Da mesma forma como na tragédia, está associada a Dioniso. Apesar disso, era considerado um gênero teatral e literário menor. Seus temas giravam em torno dos homens comuns e de fatos cotidianos envolvendo política, que são tratados como objeto de crítica e sátira. O júri que apreciava e escolhia as comédias vencedoras dos prêmios era escolhido entre as pessoas da platéia, enquanto, na tragédia, o mesmo era composto de nobres.
Havia duas partes e um intervalo na comédia. A primeira é chamada de “ágon” e apresentava um duelo verbal entre o protagonista e o coro. Uma conclusão da primeira parte era definida a partir de um diálogo entre o coro e o público. Após o intervalo, era apresentada a segunda parte, na qual eram resolvidos os problemas apresentados no início da peça.
A comédia antiga teve uma forte ligação com a democracia por fazer alusões jocosas aos mortos, satirizar personalidades vivas e até mesmo os Deuses. Por isso, seu fim ocorreu com a rendição de Atenas durante a Guerra do Peloponeso, em 404 a.C.

A comédia nova foi a última fase da dramaturgia grega. Iniciou-se no fim do século 4 a.C. e durou até o início do século 3 a.C., exercendo forte influência sobre autores romanos como Plauto e Terêncio. Ao contrário da comédia antiga, este gênero deixa de lado as sátiras violentas à política, colocando em foco temático as relações humanas. Entre os objetos de sua temática, enquadram-se aventuras galantes, conflitos de interesse e ocorrências imprevistas, enquanto que seus personagens podem ser definidos pelo padrão de virtude ou vício que os caracterizava, tais quais velhos avarentos, mães complacentes, cortesãs ambiciosas e soldados fanfarrões. O coro já não é um elemento atuante e restringe-se a fazer coreografias nas pausas entre ações.

A ida ao teatro era, para os gregos, um dos grandes acontecimentos do ano. As apresentações começavam logo após o nascer do sol e aconteciam durante dez dias, sendo cada peça representada somente uma vez. Consequentemente, os teatros deveriam ser grandes para suportar a quantidade de pessoas que o freqüentavam.
Sempre construído em forma circular, o teatro grego compunha-se de três partes: a orquestra, o proscênio e o auditório. A orquestra era um espaço circular em frente à plateia, destinado ao chefe de coro, o koriaphaios. Neste local, ele explicaria ao público o que iriam assistir. A palavra proscênio quer dizer “em frente à cena”. Esta é a parte ornamentada do teatro, onde os cenários alternavam-se e ocorriam as encenações dos atores, os hypocrates. O auditório, chamado de Kolia, tinha forma semicircular envolvendo a orquestra e o proscênio. Havia um espaço reservado às autoridades, aos convidados mais eminentes e ao sumo sacerdote de Dionísio, localizado no espaço mais próximo de onde ocorreria o espetáculo, chamado proendria.





Fig: Divisão espacial do teatro (fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-teatro/imagens/teatro-26.jpg)


Os poetas utilizavam-se de alguns recursos mecânicos para a obtenção dos variados efeitos dramáticos pretendidos na encenação. Um desses recursos era o aeorema, utilizado na simulação da descida de um deus até o cenário, o que simbolizava a chegada da justiça. Também havia o periactoi, pilares utilizados para mudar o fundo de cena por meio do giro ao redor de um eixo. Um terceiro recurso era utilizado para esconder a representação da morte ou suicídio dos personagens: uma plataforma suspensa chamada ekeclema.





Fig: Aeorema
(fonte: http://users.sch.gr/spapand/.html )





Fig: Periactoi
(fonte: http://users.sch.gr/spapand/.html )





Fig: Ekeclema
(fonte: http://users.sch.gr/spapand/.html )





Fig: Ekeclema (fonte: http://users.sch.gr/spapand/.html )



CONCLUSÃO

Os rituais dionisíacos absorveram em seu seio os vários ritos da antiguidade imemorial que se celebravam nas ocasiões transcendentais e solenes da vida humana. O deus do extravasamento e da expressão no impulso criador parecia significar o despertar o desejo artístico, e o canto e a dança que o celebravam proporcionaram meios perduráveis que preservariam para a posteridade os pensamentos e sentimentos do povo grego a respeito dos problemas fundamentais da nossa espécie.
Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana – o primeiro baseado predominantemente na emoção e o segundo na razão –, também a arte vai aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento, desta vez por meio do sentimento. E a arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista quanto para o apreciador que se entrega a elas para pensar-lhes o sentido.


Escrito por Lara Milhome Romão e Jéssica Silva Marinho



REFERÊNCIAS

GOMBRICH, Ernst. A História da Arte. 16. ed. Tradução de Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 1999.
BOWRA, C. Maurice. La Literatura Griega. 6. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964.

LITERATURA GREGA

http://www.brasilescola.com/literatura/literatura-grega.htm
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MITOLOGIA GREGA

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http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=43
http://www.historiadomundo.com.br/grega/arte-grega.htm
http://lucy.blogs.sapo.pt/7377.html (ÉDIPO)
http://www.historiadaarte.com.br/artegrega.html

TEATRO GREGO

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http://www.brasilescola.com/historiag/teatro-grego.htm
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http://www.scribd.com/doc/7083897/Aristofanes-A-RevoluCAo-Das-Mulheres (Comédia antiga "A Revolução da Mulheres - Aristófanes)

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