domingo, 6 de fevereiro de 2011

Resenha crítica sobre o filme "O Sétimo Selo"

A visão escatológica sempre permeou o imaginário humano. Atualmente, vivemos assombrados pelo juízo final da Terra em razão da exaustão de seus recursos naturais. Há 30 anos, muitos previam o final do mundo no período da Guerra Fria porque havia a iminência da Terceira Guerra Mundial. Foi nesse contexto de medo, pós-segunda guerra, que o Diretor Ingmar Bergman concebeu o filme O sétimo Selo em 1956. O filme consiste em uma trama não-realista que se tornou um retrato alegórico e moderno do pensamento medieval e do pensamento apocalíptico vigente.
O filme se inicia com a imagem do céu e de uma ave que voa estaticamente. Essa primeira cena e o título do filme já revelam diretamente a relação com o livro das revelações de João: “Depois olhei e vi uma águia que voava bem alto no céu. E ouvi a águia dizer com voz forte: _Ai de vocês! Ai de vocês! Ai de vocês que estiverem morando na terra quando se ouvir o som das trombetas que os outros três anjos vão tocar!” (Apocalipse 8: 13).
Então, em um movimento descendente de câmera, o cenário de uma praia rochosa se abre. Nela há dois homens descansando, o cavaleiro, Antonius Block (Max Von Sydow), e seu escudeiro, Jons (Gunnar Bjornstrand). Eles estão voltando para casa, depois de passarem dez anos guerreando na Terra Santa. Antonius acorda primeiro e após lavar seu rosto no mar, tenta fazer uma oração, mas desiste. Começa a arrumar suas coisas distraidamente até que percebe a presença de outra pessoa. Quando se vira, ele se depara com uma figura estranha, vestida de túnica preta, como um monge. Entretanto, após uma apresentação direta, aquela figura se identifica como a Morte, que havia de buscá-lo. O cavaleiro, então, sugere uma partida de xadrez como um trato, que lhe garantiria tempo para concretizar uma missão antes na terra: Antonius queria concretizar uma busca, pelo conhecimento, por um sentido na vida.
Antonius é um personagem angustiado, oprimido pelo contraponto entre a religião e o ceticismo. Centrado em si, cheio de questionamentos, ele busca exteriormente a fé, durante toda a história. Contudo, em seu interior, o vazio é um espelho que se reflete, ou seja, sua fé está completamente abalada por causa dos “quatro cavaleiros do apocalipse”, a Guerra, a Peste, a Fome e a Morte. Já seu escudeiro, o Jons, tem a convicção do ateísmo, e para ele não há nada além do físico.
A cena inicial narrada revela o teor filosófico do filme. Bergman, em seu roteiro, se prende a questões simples, existenciais e essenciais: “É tão inconcebível tentar compreender Deus? Por que ele se esconde em promessas e milagres que não vemos? Como podemos ter fé?”.
A história também se concentra em uma pobre companhia itinerária de Arte composta por três artistas, Jof (Nils Poppi), Mia (Bibi Anderson), sua mulher, e Jonas Skat (Erik Strandmark). Eles também viajam para um festival. O casal é religioso, e se configura no estigma de uma santa família feliz, que acabou de gerar um primogênito. Jof sempre tem visões espirituais, mas não consegue convencer Mia da veracidade delas. Já Skat, o diretor da Companhia, é uma figura mais profana e cômica.
No decorrer do enredo, a Companhia, Antonius e seus amigos se conhecem, e se unem para viajar juntos pela floresta em direção à casa do cavaleiro, amedrontados pela peste, e pelos radicais religiosos. Além disso, perseguidos pela Morte. Finalmente, ao conhecer a família de Jof, o cavaleiro se simpatiza com eles e também ganha a certeza de ter conhecido o sentido da vida: o prazer e a felicidade em coisas simples, como a reunião com os amigos.
Descobrindo assim o sentido da vida, ele se prepara para o final do jogo de xadrez com a Morte, não apresentando mais resistência. Graças às suas visões, Jof vê a Morte jogando xadrez com Antonius e consegue fugir, livrando sua família do final fatal de todo o grupo.



Escrito por João Francisco Walter Costa e Lara Araújo Garcia.



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