segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Gótico e a Catedral de Chartres

O estilo

A arquitetura gótica surgiu na França em um período de grandes transformações, fim do século XII, com o desenvolvimento comercial, o crescimento das cidades e com a centralização política. No entanto, ainda estava dominada pela cultura religiosa e as cruzadas exerciam forte influência sobre a sociedade. Citada como o auge do desenvolvimento artístico da Idade Média , a catedral gótica superou a arquitetura clássica em termos de ousadia construtiva. As “bíblias de pedra” atingiram alturas impressionantes, suas paredes parecem se desmaterializar, graças às abóbadas com traves, responsáveis pela abertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares, e aos arcobotantes , ou contrafortes, responsáveis pela elevação vertical. A riqueza de detalhes atrai o olhar do observador, que se eleva às delgadas agulhas em direção ao infinito, destino dos homens, junto a Deus.


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Nesse período, a beleza era concebida como o esplendor da verdade e as obras artísticas procuravam espelhar essa verdade que transcendia a experiência material. Nesse contexto a arquitetura gótica conseguiu refletir o belo e o espiritual e, durante séculos, foi capaz de atrair viajantes do mundo inteiro, embevecidos com a magnificência das suas construções.
Enquanto nas igrejas românicas a luz era algo que se contrastava com as paredes pesadas e sombrias da construção, no Gótico havia uma intrínseca relação entre a luz e a estrutura da edificação. Nesse estilo, os vitrais passaram a substituir as paredes coloridas da arquitetura românica e, tanto estruturalmente quanto esteticamente, se assemelhavam a paredes transparentes. As catedrais góticas não eram tão iluminadas, mas se destacaram nesse aspecto se comparadas às românicas.


Comparação entre o estilo gótico e o românico

Essas novas características arquitetônicas refletiam as mudanças sociais da sociedade da épocacom o enfraquecimento do feudalismo e o surgimento das universidades no período da baixa Idade Média. A escolástica também promoveu transformações na igreja, contribuindo para um desenvolvimento racional das ciências, tendo Deus como força suprema. Nesse cenário, a verticalidade e exatidão dos traços arquitetônicos representavam a harmonia divina ligada às ciências.
Os vitrais e esculturas com temas bíblicos juntos à elevada altura das catedrais faziam delas verdadeiros textos sagrados, indicando o caminho para a salvação. Os teólogos acreditavam que a beleza do espaço seria favorável à meditação e à fé dos paroquianos. Juntamente com a crescente exigência da população, eufórica com as novas conquistas e a consequente procura por agradecimento espiritual, os espaços eclesiásticos sofreram um aperfeiçoamento, atraindo mais fiéis, que tinham as catedrais como símbolo de orgulho cívico. Elas passaram a representar a grandeza da cidade, cujos recursos eram obtidos por membros tanto da burguesia quanto das classes populares.
As Igrejas góticas tinham sua abside virada para sudeste e a sua fachada para noroeste e os transeptos , formando os braços da cruz, estavam orientados para o nordeste e o sudeste, de modo que os fiéis entrando pelo ocidente se dirigissem para o santuário no oriente, virado pra o nascer do sol.


Fonte: Wikipédia


Notre-Dame de Chartres

A Igreja de Notre-Dame de Chartres se destacou no período da Idade Média, ostentando o título de maior catedral gótica da Europa. O local é um santuário de adoração que chamou a atenção em meio a maravilhosas construções medievais, e em um período em que a arte era essencialmente religiosa, conseguiu se tornar um centro de purificação para onde convergiam milhares de viajantes em busca de conforto espiritual e físico.

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O sítio onde foi construída já era venerado desde épocas bem remotas, acredita-se que desde o período neolítico, quando ele devia ser conhecido como uma espécie de Stonehenge. Os celtas ali também realizaram seus cultos pagãos. O nome Chartres, inclusive, deriva da palavra Carnatum, nome da gruta sagrada onde os celtas veneram a imagem de uma mulher segurando uma criança, considerada pelos cristãos como a figura de Maria .
A Catedral foi construída sobre uma antiga Igreja Românica e foi a segunda igreja em estilo gótico da Europa. Localiza-se no Vale do Loire, vilarejo a 170 km de Paris, na França. Começou a ser construída em 1020 e foi inaugurada em 1064. Marcada pela verticalidade e majestade da arquitetura gótica, Chartres é repleta de história e misticismo, que aliados à precisão arquitetônica, continuam a impressionar seus visitantes.


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Em 1194, a Catedral foi devastada por um incêndio e foi feita uma reconstrução completa da sua nave e do coro. A maior parte da catedral atual foi construída entre 1193 e 1250. Os seus vitrais se mantiveram intactos e a arquitetura sofreu pequenas alterações desde o século 13. Durante a revolução francesa a catedral foi quase destruída por uma multidão num ato contra a religiosidade e ,neste mesmo período, as placas de bronze do labirinto que se encontra no interior da catedral foram retiradas, derretidas e usadas para fins militares.
Até o final do século 12 a igreja já havia se tornado um destino de peregrinos cristãos. Lá aconteciam quatro grandes feiras que coincidiam com as principais festas de Maria e vários fiéis viajavam até o local na expectativa de poderem ver o manto da Virgem. Segundo a lenda, o manto usado por Maria no nascimento de Jesus havia sido doado à catedral por Carlos Magno. O imperador teria recebido a relíquia como presente de Constantino VI em uma das cruzadas.



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Vitrais

A catedral possui mais de 150 vitrais que narram passagens do Novo e do Velho Testamento, incluindo fatos importantes da vida de Cristo, da vida de alguns santos e inclusive símbolos do zodíaco e cenas do cotidiano. A maioria desses vitrais é oriunda dos Séc. XII e XIII.
Além dos vitrais tradicionais, há três rosáceas em Chartres. Uma delas está localizada na fachada oeste e possui 12 metros de diâmetro e no seu interior são representadas cenas do Juízo final. Na fachada norte há outra de 10.5m de diâmetro que é dedicada à Virgem Maria, que aparece ao seu centro segurando o menino Jesus. Ao seu redor há imagens de anjos, pombas e representações de passagens do Antigo Testamento. A última rosácea está localizada ao sul e é dedicada ao próprio Cristo que é representado no seu centro com a mão direita levantada em bênçãos, rodeado por anjos.


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As rosáceas estavam sempre presentes nas catedrais góticas, sendo um dos seus elementos mais característicos. Como seu próprio nome infere, essas grandes estruturas circulares possuíam no seu interior vitrais dispostos de tal forma que lembravam a figura de uma flor, ou rosa.

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O caminho interior


A Catedral de Chartres chegou a ser considerada a Jerusalém celeste, o lugar para onde os peregrinos migravam quando impossibilitados de irem à Terra Santa. A entrada na Igreja não se dava pela porta da fachada principal, antes, o viajor descia aos seus subterrâneos com o intuito de se purificar. Ali, alguns metros abaixo da catedral, na chamada cripta, o visitante rezava para a imagem da Virgem Negra e bebia a água de um poço subterrâneo que tinha a fama de realizar milagres. O indivíduo ficava ali durante horas ou até dias em oração até se sentir harmonizado e purificado para subir até a Catedral. A cripta, na realidade, faz parte da Igreja Românica anterior à construção de Chartres , e, portanto, sua arquitetura difere-se do resto da catedral, sendo um local bem escuro, propício à introspecção.
A própria igreja não é muito iluminada para que se seus vitrais se destaquem e se tornem mais nítidos para o visitante. Ao ter contato com esse novo ambiente o viajor se dirigia ao labirinto, perto da fachada Oeste, também conhecido como o Caminho de Jerusalém. Este é formado por 11 círculos concêntricos sendo representado no chão do edifício por exatamente 365 pedras brancas e 273 pedras negras fazendo uma alusão ao ano solar e lunar e ao seu centro há uma rosa. Ao percorrê-lo, o indivíduo pode ter a impressão de que irá se perder, mas sempre chegará ao centro. Como simbolismo da peregrinação à Jerusalém, muitos fiéis o percorria de joelhos. Nessa caminhada, de aproximadamente uma hora, o circuambular constante leva a pessoa a perder suas referências de espaço e tempo, entrando, no que se acredita ser um estado de meditação, aquietando sua mente e encontrando a paz. A chegada ao centro era o momento da conexão do viajor, já purificado e preparado, com as energias celestes.







As igrejas góticas continuam a encantar pessoas de diversas partes do globo, que vão ao seu encontro em busca de alento para alma e também com o intuito de conhecer sua arquitetura majestosa. Notre-Dame é um dos exemplo dessas construções religiosas que mais se destacou na Europa, sendo um centro de peregrinação e de fé por muitos séculos. Esse fascínio causado por sua história, arquitetura e religiosidade provavelmente continuará a atrair ainda por muito tempo fiéis e curiosos do mundo inteiro ao seu encontro.

Escrito por Thamires Chacara e Gabriela Emi.

Bibliografia:
SIMSON, Otto Von. A Catedral Gótica. Lisboa: Editorial Presença, 1991
FULCANELLI. O mistério das Catedrais. Lisboa: Edições 70, 1964
http://astrologiaisabelcarvalho.blogspot.com
http://en.wikipedia.org/wiki/Chartres_Cathedral
http://www.soarquitetura.com.br
Revista SOPHIA- Ano 8, n°30- abr/jun 2010- Publicação da Ed. Teosófica

6 comentários:

  1. Muito bom. Útil e didático para parte de um trabalho acadêmico de arquitetura

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  2. Muito bom. Útil e didático para parte de um trabalho acadêmico de arquitetura

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  3. Obrigado pelo seu trabalho. Útil e sucinto

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  4. Algum sabe me informar quando a Catedral foi construída e quando terminou

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  5. Respostas
    1. Desculpe-me o outro site copiou suas pesquisas.Aqui vai o link:
      https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/catedral-de-chartres/

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